Uma fala “ruim”, um “verdadeiro absurdo”. Foi assim que deputados governistas reagiram à fala do novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de que os atos de violência contra os prédios dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023 não foram uma tentativa de golpe, mas atitudes de “vândalos” e “baderneiros”.
Na sexta-feira, a declaração em entrevista à rádio Arapuan FM, de João Pessoa, caiu como bomba entre petistas e como fogos de artifício entre deputados bolsonaristas. O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a elogiar o presidente da Câmara após a declaração.
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Motta afirmou que 8 de janeiro não teve um líder nem apoio de instituições interessadas para que pudesse chamar de golpe. A fala veio poucos meses depois de a Polícia Federal (PF) revelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a participação de membros de alto escalão das Forças Armadas na organização de uma tentativa de golpe e apoio aos acampamentos que fomentaram os atos do dia 8/1.
As investigações levaram ao indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas – fora as mais de mil já investigadas, presas ou condenadas. A PF aponta o ex-presidente como o líder da organização criminosa que planejou um golpe de Estado para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022
“Passar pano” gera novas ameaças, afirma deputado do PT
“Negar a tentativa de golpe de 8 de janeiro é um verdadeiro absurdo depois de tantas provas obtidas na CPI do Congresso e nas investigações do STF. Enquanto ficarmos passando o pano em golpistas vamos continuar vivendo sob ameaças”, disse o deputado Carlos Zaratini (PT-SP) ao jornal O Globo.
Por outro lado, até por se tratar de um mandato novo, iniciado no sábado passado (1º), a base do governo, minimiza, negando que isso vá “gerar uma crise entre Motta e apoiadores de Lula”. Apesar das críticas, os petistas naturalizaram a fala do presidente da Câmara, já que o parlamentar pertence ao Centrão e foi eleito com votos da oposição.
“É o jeito dele, ele foi eleito com os dois lados. Ele vai ficar sempre fazendo uma mediação. Ele está em um processo de construção coletiva. O importante é ele trabalhar pelos projetos do governo”, afirmou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), segundo o jornal. Motta foi eleito com 444 votos contra 55 de outros dois candidatos. Reuniu em sua base, os extremos, do PT de Lula ao PL de Bolsonaro, e muita gente do Centrão.
De olho no projeto sobre anistia
Mas segundo O Globo, os petistas, sinalizaram que vão dar atenção redobrada com os passos de Motta para ver se a postura irá se materializar em um apoio ao projeto de lei de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Entre deputados aliados de Motta dos partidos do Centrão, conforme o jornal, está o grupo que defende que o presidente da Câmara tem direito a opinião, e que concorda que os atos se trataram apenas de “vandalismo”. Por outro lado, negam que isso signifique um avanço para o projeto de lei da anistia. Um dos motivos é evitar confronto com o Judiciário, a quem cabe definir as punições aos participantes dos atos, mesmo que eles achem exageradas.
Bolsonaristas ficaram animados
Por outro lado, o jornal registrou que o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), viu na fala de Motta uma sinalização a favor da proposta que livra os condenados pelos atentados contra os três poderes em janeiro de 2023.
“Acho que a declaração dele pavimenta para que possamos pautar em breve o PL da Anistia. O Hugo está demonstrando ser um presidente com convicções com opiniões próprias, eu concordo com tudo o que ele falou sobre o 8 de janeiro, aquilo nunca foi golpe. Assim como impeachment da Dilma também não foi golpe. Para a esquerda tudo é golpe”, atacou Sóstenes Cavalcante.
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