Na esquina da Avenida C-8 com rua C-40, no Setor Sudoeste, um lote de apenas 500 metros quadrados fornece 7 mil plantas comestíveis por mês. Procurada cada vez com mais ansiedade por moradores e pequenos comerciantes da região, lá está instalada há sete meses a primeira fazenda urbana de hidroponia de Goiânia, chamada Aquafarm.
Trata-se de uma start-up de inovação, parceira do Sebrae-Goiás, baseada no modelo de fazenda urbana, mas com foco apenas em hortaliças produzidas na água. À frente, a jovem engenheira agrônoma Aline Ramos, 31, mestranda em olericultura (cultivo de hortaliças) pelo Instituto Federal Goiano de Morrinhos, unidade referência nacional nesse tipo de horticultura.
Apaixonada pela agricultura familiar, Aline conta ao Diário de Goiás, que sonhava em unir essa concepção, onde envolve sua família (pai e mãe), com zero uso de agrotóxico, sustentabilidade, acessibilidade para o consumidor e educação ambiental. Tudo isso dentro da capital.
Fazenda urbana de hidroponia de São Paulo foi inspiração
Ela se inspirou no modelo da 100% Livre, uma empresa parceria da Embraça que produz hortaliças e condimentos em uma fazenda de hidroponia vertical em pleno bairro Ipiranga, em São Paulo. “Remodelamos um negócio altamente tecnificado para um projeto do nosso tamanho, bem menor, mas que pode produzir muito bem com os mesmos princípios”, avalia.
Na empresa de Aline nem o combate de insetos usa produtos químicos, sendo feito com uso de telas e armadilhas.
Filiais de fazenda de hidroponia
O rápido sucesso da fazenda urbana de hidroponia idealizada pela engenheira desde que era estudante, na Universidade Federal do Mato Grosso, em Barra do Garças, surpreendeu e ela já planeja filiais. “Essa experiência no Setor Sudoeste era como um protótipo. Deu tão certo que agora já vamos para o Setor Bueno e Setor Eldorado”, conta.
Pancs também são produzidas
Em meio a alfaces importadas, rúculas, hortelãs, cebolinhas e manjericões, ela também cultiva Plantas Alimentícias Não-Convencionais (Pancs) que têm sabores diferenciados e são muito saudáveis. “A mais procurada é o Peixinho da Horta”, revela, sorridente, relatando que os clientes que procuram dizem sentir o sabor de “lambari frito”. Mas a porção de Pancs pode conter também Ora-pro-nóbis, Alho de Folha e Almeirão, por exemplo, ao gosto do cliente.

Ao todo, são cultivadas no mínimo 18 variedades de hortaliças no local. O trabalho começa com a semeadura em um espaço que ela chama de berçário. Após a germinação, cada mudinha é transferida para outro berçário maior, ainda em terra. Depois de 15 dias, as hortaliças são transferidas para os recipientes com água.
O manejo tem exigido muito da equipe porque a demanda tem sido grande e é preciso manter plantas prontas para a venda. A água utilizada ainda não é de poço artesiano, cuja qualidade está sendo estudada para avaliar a viabilidade. Segundo Aline, a água tratada da Saneago é depositada por alguns dias para que produtos químicos como cloro e flúor evaporem. “São produtos que não fazem mal para o ser humano, mas para a planta sim”, explica.
Menor consumo de água
“Cada planta absorve 400 mls de água por dia, e a gente perde pouquíssimo por evaporação. O o consumo é da planta crescendo. Mais de 80% da alface é constituído por água”, detalha. A reposição, frisa ela, é da água consumida, não há troca. Isso, observa, torna essa modalidade mais sustentável em termos de consumo de água do que a agricultura convencional.
Além da água, é acrescida adubação. No caso da hidroponia, o nutriente é todo absorvido porque tem contato direto com a raiz. “Por isso cresce mais rápido que a planta do solo”, acrescenta. Na água, um pé de alface está pronto para consumo em 22 dias, em média, enquanto na horta em terra, ele precisa de 50 dias.
Estufas portáteis
Hoje, além dos moradores do entorno com compras no varejo pagando R$ 6,00 o pé ou o maço, pequenos restaurantes e pit-dogs têm feito compras de atacado. Essas pessoas buscam colocar no prato produtos de melhor qualidade, saborosos, frescos e mais saudáveis, diferenciais que também atraem clientes.

Além disso, também são mais duráveis. Quem compra e mantém a raiz das plantas, consegue conservar os maços por vários dias. Alguns podem, inclusive, ser replantados na terra, com sucesso.
Nos próximos meses a engenheira vai lançar uma mini-estufa hidropônica portátil para pequenos ambientes. Aline salienta que será uma maneira de disseminar a cultura da alimentação saudável plantada em água em apartamentos e até escritórios. “Muitos clientes dizem que têm vontade de ter essa opção e não sabem como fazer, mas com o sistema que estamos criando, vai bastar uma tomada”, completa ela.
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