Goiás enfrenta uma nova ameaça no combate à dengue: o ressurgimento do sorotipo 3 (DENV-3) da doença, que não circulava no Brasil desde 2007. O retorno desse tipo viral, junto com a presença contínua dos sorotipos 1 e 2 (DENV-1 e DENV-2), coloca o estado em alerta, especialmente após a confirmação de casos em pelo menos três cidades goianas.
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), já são mais de 1.120 casos confirmados de dengue em 2025, e o número de infectados continua a crescer à medida que a temporada de chuvas se intensifica. A água acumulada nas cidades propicia a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, aumentando a preocupação com um possível surto mais grave.
Riscos do sorotipo 3
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), no interior de São Paulo, alertam para os riscos do DENV-3, que pode provocar formas mais graves da doença. Desde o final de 2023, a cidade paulista observou um aumento significativo nos casos desse sorotipo, e as pesquisas apontam para a possibilidade de surtos mais severos em outras regiões do país.
O professor Maurício Lacerda Nogueira, da Famerp, explica em entrevista à Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) que a combinação da ausência de imunização da população contra o DENV-3 e a circulação simultânea de outros sorotipos cria um cenário propício para uma epidemia de maior intensidade. “Se o DENV-3 se estabelecer de forma dominante, isso pode resultar em uma epidemia mais grave, como já estamos observando em algumas regiões”, alerta Nogueira.
Em Goiás, as cidades de Anápolis, Rio Verde e Goiatuba já registraram casos confirmados de dengue tipo 3, o que aumenta a urgência das ações preventivas. O fato de os goianos não estarem imunizados contra esse sorotipo eleva o risco de maior disseminação da doença.
Expansão do mosquito
A disseminação do Aedes aegypti, o principal transmissor da doença, tem sido facilitada pelas mudanças climáticas e pela urbanização acelerada. Alvo da pesquisa da Famerp, a cidade de São José do Rio Preto, por exemplo, experimenta condições ideais para a proliferação do mosquito: temperaturas médias anuais acima de 25°C e altos índices pluviométricos. Essas condições também são comuns em Goiás, o que amplia a preocupação com a rapidez da disseminação do vírus.
A vigilância ativa é apontada como uma medida essencial para combater a dengue. Pesquisadores que monitoram a circulação dos sorotipos em São José do Rio Preto destacam a importância da vigilância genômica para a detecção precoce e controle da doença. “É fundamental manter um monitoramento contínuo dos sorotipos em circulação, pois a introdução de novas linhagens, como o DENV-3, pode resultar em surtos de alta gravidade”, reforça Lacerda Nogueira.
Goiás no radar para risco de dengue 3
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que convocou um mutirão contra a dengue em reunião com prefeitos no dia 17 de janeiro, destaca que as mortes por dengue são evitáveis e que é necessário um esforço conjunto entre o governo estadual, prefeituras e agentes de saúde. “Peço atenção redobrada. Seremos um exército fazendo um verdadeiro mutirão para diminuir a incidência dessa doença”, afirmou Caiado.
Em 2024, Goiás registrou um aumento alarmante de 260% no número de casos confirmados em comparação com os anos anteriores, com cerca de 300 mil infectados. A combinação de sorotipos circulantes e o risco de epidemia do DENV-3 torna a situação ainda mais grave. O governo estadual tem intensificado campanhas de conscientização e ações de controle do mosquito, como o fumos de inseticidas e a eliminação de criadouros, além da solicitação para que os cidadãos participem ativamente da limpeza de seus imóveis.
Como prevenir a dengue em Goiás
A prevenção continua sendo o melhor caminho para evitar novos casos. Especialistas reforçam a necessidade de eliminar locais onde o mosquito possa se proliferar, como caixas d’água destampadas, pneus velhos, garrafas e outros recipientes que possam acumular água. O uso de repelentes e a instalação de telas de proteção também são medidas eficazes.
A vigilância epidemiológica e a notificação imediata de casos suspeitos são igualmente essenciais para o controle da doença. A colaboração entre a população e as autoridades de saúde é crucial para evitar que o DENV-3 se espalhe rapidamente por Goiás.
Impactos da mudança climática
A expansão das áreas afetadas por arboviroses, como a dengue, é amplificada pelas mudanças climáticas. O aumento das temperaturas e a maior frequência de chuvas intensas favorecem a proliferação do mosquito transmissor, não só no Brasil, mas em várias regiões tropicais e subtropicais do mundo. Por isso, é importante que as autoridades públicas também pensem em estratégias de longo prazo, que envolvam o planejamento urbano e o controle ambiental.
Com a introdução do DENV-3, Goiás se vê diante de uma nova fase na luta contra a dengue e o alerta das autoridades e pesquisadores é claro: se as medidas de prevenção não forem adotadas de forma eficaz, o estado pode enfrentar um surto mais grave, com riscos elevados de complicações para a saúde pública.
A importância da vacinação
Embora a vacinação contra a dengue ainda seja um tema em desenvolvimento, a ciência busca alternativas que possam ajudar a população a lidar com a multiplicidade de sorotipos em circulação. Até que vacinas adequadas sejam amplamente distribuídas, as medidas preventivas, como eliminação de focos de mosquito e a conscientização da população, continuam sendo as principais armas no combate à doença.
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