24 de março de 2025
DENÚNCIA DE ASSÉDIO

Ex-ministro Silvio Almeida fala antes de depor à PF e rebate acusações de assédio sexual

Depoimento está agendado para esta terça-feira (25) na sede da Polícia Federal em Brasília; essa foi a primeira entrevista dele após afastamento
Caso rumoso levou ao afastamento do ex-ministro que nunca havia falado em entrevista, mas sempre negou acusações - Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Caso rumoso levou ao afastamento do ex-ministro que nunca havia falado em entrevista, mas sempre negou acusações - Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Um dia antes de prestar depoimento à Polícia Federal no inquérito que o investiga por assédio sexual, o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, concedeu uma entrevista exclusiva ao portal UOL. Acusado pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, de importunação sexual, Almeida rompeu um silêncio de cinco meses e negou as acusações, classificando-as como “descalabro” e resultado de “intrigas políticas”.

Silvio Almeida prestará depoimento nesta terça-feira (25) na sede da Polícia Federal em Brasília. O inquérito corre sob segredo de Justiça.

Almeida disse que evitou se manifestar até o momento por não haver “disposição para que ele fosse ouvido” e criticou o que chamou de “clima de hostilidade” em torno do caso. “Minha defesa era lida como forma de desrespeito às supostas vítimas”, declarou. No entanto, afirmou que chegou a hora de “começar a falar”.

A principal acusação contra o ex-ministro partiu de Anielle Franco, que relatou que a importunação começou ainda no período de transição de governo. Almeida, porém, contestou essa versão e disse que encontrou a ministra em poucas ocasiões. “Não convivemos durante a transição. Tenho lembrança de ter me encontrado com Anielle em duas ocasiões: num jantar e no dia do anúncio dos ministros”, afirmou.

Sobre a acusação de que teria passado a mão na perna da ministra por baixo da mesa em uma reunião em Brasília, Almeida negou de forma veemente. “É óbvio que não. Imagine uma reunião com dois ministros, o presidente da Anac e o diretor da Polícia Federal. Eu faria isso na frente dessas pessoas? Isso é um descalabro”.

“Fomos enredados na imundice”, diz Sílvio Almeida sobre ele e Anielle um dia antes de depoimento

O ex-ministro também sugeriu que havia um desconforto por parte de Anielle Franco sobre sua presença no governo, citando “fofocas” que indicavam um suposto incômodo dela com o fato de ele ser uma referência na área de igualdade racial. “Não tinha tempo de lidar com fofoca, o que pode ter sido um erro meu”, disse. Ele ainda argumentou que “ambos foram enredados nessa imundice”.

Além de Anielle Franco, outras mulheres apresentaram denúncias contra Almeida, incluindo a professora Isabel Rodrigues e uma ex-aluna. Sobre Isabel, ele afirmou que foram amigos por anos e que se surpreendeu com sua acusação. “De repente, ela aparece se declarando a 15ª vítima, sendo que sequer se sabia qual era o número de supostas vítimas”, criticou.

Almeida também rebateu as denúncias de ex-alunas e afirmou que sempre adotou precauções por ser um professor jovem e negro. “Desde o início, trabalhei com assistentes. Pouquíssimas vezes apliquei uma prova”, disse. Ele argumentou que, ao longo de 20 anos de carreira acadêmica e cerca de 40 mil alunos, nunca recebeu uma acusação formal dentro das instituições em que trabalhou.

Ao longo da entrevista, Almeida sugeriu que foi vítima de uma orquestração de grupos políticos e de setores do movimento negro, além de insinuar que a ONG Me Too Brasil teve um papel nas denúncias. “Supostas denúncias contra mim foram levadas diretamente para um jornalista. Isso viola o dever de proteção de dados e de sigilo”, afirmou. O ex-ministro também indicou que a ONG tentou se envolver em licitações do Ministério dos Direitos Humanos durante sua gestão.

Questionado sobre sua relação com a presidente do Me Too Brasil, Marina Ganzarolli, Almeida disse que a conhecia superficialmente e revelou que ela o procurou antes das denúncias. “Ela me enviou mensagens no ano passado querendo marcar reunião, alegando que tinha sido recebida por todos os ministros, menos por mim. Achei inadequado pedir agenda para tratar de assuntos de interesse da organização dela”, disse.

Outro ponto abordado foi uma troca de mensagens entre Almeida e Anielle Franco, em que ele elogiou um vestido da ministra. “A mensagem anterior tinha uma foto em que estávamos juntos, abraçados. Achei gentil e educado dizer que o vestido estava deslumbrante”, justificou.

Pedir desculpas está fora de questão

Ao longo da entrevista, Almeida demonstrou indignação com as acusações e rejeitou qualquer ideia de pedir desculpas. “Não vou pedir desculpas se não fiz nada de errado. Não há conforto na injustiça”, afirmou. Ele comparou sua situação com a de figuras históricas como Nelson Mandela e Luiz Gama, além do presidente Lula, que, segundo ele, também enfrentaram acusações injustas.

Por fim, o ex-ministro reconheceu que sua falta de alianças políticas pode ter contribuído para sua queda. “Não fazia parte de nenhum partido ou grupo específico. Talvez esse tenha sido o meu calcanhar de Aquiles”, admitiu. Ele também disse não guardar ressentimentos contra Lula pela sua demissão. “Ele foi levado a uma situação incontornável. Não tinha alternativa”.


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