O presidente Michel Temer confirmou, em respostas a perguntas feitas pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecer dois empresários que negociam delação premiada.
Negou ainda ter ciência de pagamentos de vantagem indevida ao seu hoje ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).
O presidente foi arrolado como testemunha por Cunha, réu na ação penal que apura o esquema de corrupção e fraudes na Caixa.
Em função do cargo que ocupa, Temer pode responder por escrito às 22 perguntas do ex-deputado.
O ofício com as respostas foi enviado na segunda (17) ao juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, responsável pelo caso.
Questionado por Cunha, Temer afirmou conhecer Henrique Constantino, acionista da Gol, e Léo Pinheiro, sócio da empreiteira OAS que está preso em Curitiba.
Ambos negociam acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.
Nas investigações, os empresários são apontados como autores de repasses ilícitos para políticos do PMDB em troca de obter facilidades nos financiamentos do FI-FGTS, o bilionário fundo administrado pela Caixa Econômica que investe em infraestrutura com recursos do trabalhadores registrados.
“Vossa excelência conhece Henrique Constantino? Esteve alguma vez com ele? Qual foi o tema? Tinha a ver com algum assunto ligado ao financiamento FI-FGTS?”, perguntou Cunha.
“Conheço, mas este tema nunca foi tratado”, respondeu Temer.
Sobre Pinheiro, o ex-deputado fez três perguntas: se o presidente o conhecia, se teve algum encontro para tratar de doação de campanha em 2010, 2012 e 2014, e se alguma estava vinculada com a liberação de recursos do FI-FGTS.
Temer afirmou que o empresário “colaborou com vários candidatos do PMDB em todo o Brasil”, mas negou ligação com dinheiro do fundo administrado pela Caixa.
O presidente foi evasivo ao responder se conhecia André de Souza, que atuou como conselheiro do Comitê de investimento do FI-FGTS.
“Recebi muitos empresários acompanhados de diversos agentes políticos, não acompanhando o nome de todos”, disse.
O conselheiro, que foi sindicalista e era ligado a CUT, é mencionado na delação da Odebrecht como receptor de propina para intermediar recursos do FI-FGTS e FGTS.
Temer foi inconclusivo ao responder se conhecia o ex-presidente de Infraestrutura da Odebrecht Benedicto Júnior, um dos delatores da empresa. “Não é improvável que ele tenha estado com pessoas que me visitaram”, afirmou.
Sobre a indicação de Moreira Franco para a vice-presidência de Fundos e Loterias, Temer afirmou que foi feita pelo PMDB na época em que ele era presidente do partido.
Porém, o presidente nega ter indicado o substituto de Moreira Franco ao cargo, Joaquim Lima. Também disse desconhecer Fábio Cleto, negando ter participado de sua nomeação para o posto de vice-presidente da Caixa.
Cleto é apontado como apadrinhado por Cunha e foi um o primeiro delator do esquema de fraudes no FI-FGTS.