O tenente-coronel Mauro Cid afirmou em seu depoimento de delação premiada que o ex-presidente Jair Bolsonaro ordenou o monitoramento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Morais, pois suspeitava de encontros dele com seu vice-presidente, Hamilton Mourão. A revelação veio a público na última quarta-feira (19), quando Moraes retirou o sigilo do processo.
No trecho da transcrição do depoimento, Cid relata a possível motivação do esquema. “Um dos motivos foi o fato de que o então presidente havia recebido uma informação de que o general Mourão estaria se encontrando com o ministro Alexandre de Moraes em São Paulo. Que foi uma maneira de verificar se essa informação era verdadeira ou não”, disse.
O depoimento em questão foi tomado por Moraes em novembro de 2024. Na ocasião, o ministro exigiu que Mauro Cid contasse a verdade sobre as armações da trama golpista. “Eu quero fatos”, determinou o ministro, ao afirmar que marcou a audiência como uma “última chance” dele dizer a verdade.
De acordo com Cid, o monitoramento do ministro era feito pelo coronel Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro à época. O ex-ajudante de ordens do presidente afirmou que recebia as informações e repassava para Bolsonaro. A PF acredita que Mourão não foi a única razão do monitoramento, já que as ações envolviam práticas mais detalhadas e sigilosas.
“Assim, tem-se que o cotejo do monitoramento da autoridade judiciária teve escopo infinitamente maior, em dimensões superiores ao relatado originalmente pelo colaborador, ocasião em que tratou de minimizar as condutas de vigilância, ao atribuir como um caso pontual, em atendimento a um pedido do então presidente JAIR BOLSONARO. Conforme demonstrado, MAURO CID e MARCELO CAMARA monitoraram o ministro ALEXANDRE DE MORAES, inclusive, no período prévio à cerimônia de diplomaçõo da chapa presidencial vencedora”, afirmou a PF no relatório.
Bolsonaro denunciado pela PGR
Na última segunda-feira (18), Jair Bolsonaro foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao STF, junto a mais 33 aliados civis e militares pela formação de uma organização criminosa voltada a desestabilizar o processo democrático no Brasil. Agora, o ex-presidente tem prazo de 15 dias para que seus advogados apresentem defesa.
Segundo a denúncia da PGR, Bolsonaro sabia e concordou com o plano de matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Inclusive, o ex-presidente é apontado pela PGR como líder do plano golpista tramado entre 2022 e 2023 e já tinha até mesmo o discurso pronto, caso o golpe tivesse sido consumado. O documento foi encontrado na sala do ex-presidente na sede do Partido Liberal (PL) e no celular de Mauro Cid.
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