A escassez de ovos nos Estados Unidos (EUA) vem provocando uma oscilação de preços que segundos os meios de comunicação variam dos exorbitantes R$ 60 a dúzia, até os astronômicos R$ 100 pela cartela em um país onde os habitantes consomem muitos ovos ao dia, uma dieta presente desde o café da manhã até o jantar. A gripe aviária e a escassez são os principais fatores para a explosão nos preços.
Um surto de gripe aviária nos EUA que começou em 2022, disparou o preço do produto. O vírus H5N1 dizimou quase 123 milhões de galinhas, perus e outras aves em 49 estados dos EUA desde o início dos surtos.
Reportagem do USA Today destaca que em 2021, antes da crise, a dúzia de ovos custava US$ 2,01, o equivalente a R$ 11,50, aponta também o portal Uol. Depois da gripe aviária, os preços foram escalando, passando a US$ 3,03 (R$ 17,4), em 2023, e a US$ 4,15 (R$ 23,8) em dezembro do ano passado. Este ano, porém, a caixa de ovos chegou a ser encontrada a US$ 10 a dúzia, ou cerca de R$ 57 (veja abaixo).
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA na sigla em inglês) precisou sacrificar cerca de 17,2 milhões de galinhas poedeiras apenas entre novembro e dezembro, quase metade de todas as aves mortas pelo vírus no ano passado.
Com menos ovos no mercado, muitos americanos compram o máximo que podem quando os encontram nas gôndolas. A voracidade dos consumidores vem aumentando ainda mais os preços, reavivando a “crise do papel higiênico” da pandemia, quando os consumidores estocaram o produto, comparou ao site de notícias a professora de marketing na Universidade Emory, Saloni Vastani, especialista em preços.
Ovos roubados
O roubo de 100 mil ovos de um trailer no estado Pensilvânia, nos Estados Unidos, registrado no início de fevereiro, voltou a colocar os altos preços do alimento no país em destaque no noticiário.
Com a alta dos preços vindo em escalada desde 2024, a carga que foi alvo de ladrões está avaliada em US$ 40 mil (cerca de R$ 230 mil, na cotação de 7 de fevereiro), segundo informou o portal G1, com base na polícia da Pensilvânia.
Surto e corrida por ovos nos mercados dos EUA
“Os preços estão subindo por causa da gripe aviária, mas isso está levando as pessoas a comprar mais ovos do que o normal porque elas preveem preços mais altos e menor oferta nos supermercados”, afirmou Saloni Vastani, de acordo com o Uol.
Alguns pontos de venda já limitam a compra de ovos nos EUA. “Continuamos a limitar o número de compras de ovos (…) e estamos trabalhando com nossos fornecedores para atender à demanda”, disse o Sam’s Club em comunicado.
A expectativa da USDA é que os preços continuem subindo. O órgão espera que a produção de ovos caia em 2025, “refletindo um rebanho menor resultado de perdas para a gripe aviária”. Os preços, estima, podem aumentar 20,3% ao longo do ano, contra 2,2% na média geral dos alimentos.
As reposições podem levar “mais de nove meses para voltar ao normal”. A estimativa é de Matt Sutton-Vermeulen, diretor de práticas agrícolas e alimentares da Kearney, uma empresa global de consultoria em estratégia e gestão, ouvido pelo portal.
Risco da gripe aviária no Brasil
No Brasil, o Espírito Santo já registrou casos da gripe aviária em anos anteriores, mas sem prejuízos significativos à produção de ovos como ocorre com os EUA. Segundo a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, o risco de transmissão da gripe aviária por meio do consumo de alimentos preparados adequadamente é pequeno.
No entanto, a mortalidade das aves devido à doença reduz a oferta de ovos e impacta diretamente a produção.
Ao portal Ig Marcello Marin, contador, administrador e especialista em Recuperação Judicial, explica, que os casos de gripe aviária nos Estados Unidos não são recentes e a situação não deve afetar o Brasil.
“Não começaram em 2024; vêm se arrastando desde 2021, 2022, com milhões de aves infectadas. Em 2024, por exemplo, havia 43 milhões de aves infectadas. Isso é um número significativo. No entanto, para que isso impacte o Brasil e o preço do ovo, é muito difícil”, diz.
Crise nos EUA pode ser oportunidade para Brasil, mas riscos são elevação de preço e gripe aviária
Segundo Marin, o Brasil é autossuficiente na produção de ovos, não precisando importar do exterior. Isso pode, inclusive, ser vantajoso para a nossa economia e para a balança comercial, uma vez que podemos exportar ovos para os Estados Unidos. No ranking nacional, Goiás oscila entre o 8º e 9º estado que mais produz ovos.
“Lá, o preço dos ovos está sendo muito afetado pela gripe aviária, com aumentos de até 2,5 dólares entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024. Isso pode representar uma oportunidade para o Brasil. O que devemos monitorar é se a gripe aviária se espalhar para cá, embora isso não seja comum. O Brasil tem um sistema de controle rigoroso, com um processo bem definido de saneamento, o que diminui muito o risco de surtos”, ressalta o especialista.
Por outro lado, no momento em que o governo federal se desdobra em encontrar medidas para reduzir o preço dos alimentos no Brasil, avanços na exportação de ovos pode representar risco do produto encarecer no mercado interno, como acontece com a carne.
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