A deputada federal goiana Marussa Boldrin (MDB) publicou, nesta segunda-feira (28), uma carta aberta onde relata as violências domésticas sofridas em seu casamento. A parlamentar também registrou um boletim de ocorrência contra o ex-marido, o advogado Sinomar Júnior, com pedido de medida protetiva.
Em um post nas redes sociais, Marussa detalhou as situações vivenciadas nos últimos anos. “Eu estive em um relacionamento abusivo. Dizer isso em voz alta já é, por si só, um ato de coragem. Durante anos, fui silenciada dentro da minha própria casa. Fui desvalorizada, desacreditada, diminuída como mulher, como mãe e como profissional. E, por muito tempo, acreditei que suportar em silêncio era o caminho. Hoje, sei que não era”, escreveu.
“Me casei acreditando no amor, acreditando na parceria. Tínhamos uma filha a caminho, uma vida inteira pela frente e muitos sonhos a serem vividos. Mas, logo após o nascimento da minha primeira filha, o homem que havia jurado cuidar de mim se afastou, emocional e fisicamente, e as agressões psicológicas começaram. Eu tentava compreender, tentava reconectar, insistia no que já não existia. Não casei para separar – repeti isso tantas vezes para mim mesma”, continuou.
Segundo a deputadas, as agressões tiveram início de forma verbal. “Insisti, mesmo quando ele passou a me ferir com palavras. Quando dizia que meu trabalho não prestava, que eu era incompetente. Quando desdenhava do meu mandato, usando até mesmo palavras de baixo calão. Quando dizia sentir nojo do meu leite enquanto eu amamentava. Ainda assim, eu me calava. Por medo, por vergonha, por acreditar que tudo ia mudar. Eu me calei. E me arrependo profundamente de ter silenciado a minha voz”, disse.
“Enquanto eu lutava na vida pública, ele me sabotava na vida privada. Nunca me apoiou com sinceridade, apenas por conveniência. Nem mesmo compareceu à minha posse de reeleição como vereadora. Eu seguia tentando. Mesmo depois de descobrir uma traição, em que a outra pessoa chegou a me mandar mensagem expondo o relacionamento entre eles, tentei reconstruir. Engravidei do segundo filho mais uma vez tentando corrigir a rota do abuso com amor. Ao invés da relação dar sinais de melhora, os abusos se transformaram em pesadelos diários e a pressão psicológica e moral passaram a ser regra dentro de um lar que deveria ser um porto seguro”, relatou.
A parlamentar disse ter vivido uma rotina de sofrimento, sendo xingada, maltratada, ameaçada e humilhada. “Me agarrei à falsa esperança de que o amor pudesse curar o que, na verdade, era abuso. Mas não há cura quando não há respeito. Não há reconstrução possível onde há destruição emocional diária”, frisou.
Marussa relatou que a distância entre o casal passou a ser uma questão de segurança para ela. Porém, quando decidiu avançar na política almejando um cargo maior, ele se reaproximou. “Não por mim, mas pelo interesse no que eu representava. E, mais uma vez, me iludi acreditando que a prestatividade dele era real, mas o tempo provou que eu estava errada. Ele continuou a me machucar psicologicamente e a me humilhar moralmente”, enfatizou.
A deputada disse que os limites do abuso foram ultrapassados em 2023, quando houve a primeira agressão física. Mais uma vez, Boldrin se calou. “Eu tive medo. Tive vergonha e optei por não contar nem para minha família, que já havia entendido o relacionamento abusivo em que eu estava. Pensando em proteger nossos filhos do trauma de um divórcio e com medo de expor minha vida em público, decidi seguir com medo”, disse.
Entre compromissos da vida política e materna, a deputada enfatizou ter seguido em meio ao pesadelo, com constantes “ameaças, gritos, ofensas e agressões”, “dividindo apenas o mesmo teto”. Ela relata que buscava, sozinha, “forças para sair de um relacionamento que nunca deveria ter sido construído”. Neste ano, uma nova agressão a motivou à exposição.
“Em 2025 resolvi seguir com minha vida para tentar voltar a ter paz, ele reagiu com ódio e me espancou pela segunda vez, agora com mais intensidade. E finalmente resolvi falar. Tive coragem de procurar a delegacia, de fazer o boletim de ocorrência, o corpo de delito, e pedir uma medida protetiva. Porque não cabe amor onde existe violência. Eu sobrevivi”, disse.
Segundo Boldrin, esse foi o primeiro passo para dar fim ao relacionamento abusivo. “Busquei em Deus a força e a coragem que eu precisava, e agora, finalmente, eu falei. Falei por mim e por todas as mulheres que sofrem em silêncio. Falei porque quero viver feliz, e a felicidade só é possível com paz. Tomei meu primeiro passo para romper de vez esse ciclo. Meu divórcio já foi consumado pela justiça que entendeu os abusos que vivi e me garantiu a guarda dos meus filhos”, relatou.
“A justiça já conhece a minha verdade, e sei que para uma pessoa que só conhece a agressão, falta a ele tentar agredir minha imagem de maneira pública. Vão usar desse infeliz episódio como uma manobra política para tentar abafar os abusos que vivi em troca de desgaste de imagem e eu não vou aceitar isso. Eu vou resistir assim como eu já resisti aos abusos morais e físicos. Eu sei que tenho a verdade ao meu lado – e mais: tenho minha história, meu trabalho limpo e o apoio de quem sempre me viu com respeito”, ponderou.
A carta foi concluída com frases de motivação para que outras mulheres não aceitem o sofrimento da violência doméstica. “Não quero mais carregar essa dor calada. Não quero mais fingir que está tudo bem. Não aceito mais ser abusada, nem física, nem moral, nem psicologicamente. E se você, mulher, estiver lendo isso e vivendo algo parecido, saiba: você não está sozinha. Não tenha medo de denunciar, de pedir ajuda, de buscar sua liberdade. Hoje, eu começo a escrever um novo capítulo da minha vida. Um capítulo de cura, de força, de dignidade. Por mim. Pelos meus filhos. Por todas nós”.
Sinomar Júnior foi procurado desde a manhã de segunda-feira (28) no telefone fornecido por fontes que falaram com ele neste número. O advogado não atendeu as ligações da reportagem e durante o dia não retornou às mensagens enviadas que abrem espaço para sua versão. À noite, a assessoria do advogado enviou uma nota (leia a íntegra abaixo).
Na nota Sinomar Júnior aponta “segredo de Justiça” no processo de divórcio, não comenta as acusações de violência e sugere infidelidade conjugal por parte de Marussa, afirmando que “foi evidenciada a violação dos deveres conjugais de respeito e fidelidade por parte de sua ex-esposa, além de outros fatos relevantes que demonstram a responsabilidade pela dissolução da união”, e não as agressões como motivo da separação, como aponta a deputada na carta.
Nota à Imprensa
Em respeito à verdade dos fatos, a defesa de SINOMAR VAZ DE OLIVEIRA JÚNIOR esclarece que todas as questões relativas ao processo de divórcio estão sendo devidamente tratadas na esfera judicial competente, sob segredo de justiça, conforme previsto em lei.
No processo, foi evidenciada a violação dos deveres conjugais de respeito e fidelidade por parte de sua ex-esposa, além de outros fatos relevantes que demonstram a responsabilidade pela dissolução da união. SINOMAR VAZ DE OLIVEIRA JÚNIOR nega as acusações que lhe foram imputadas, apresentando, na contestação, todos os elementos necessários para o esclarecimento dos fatos, que serão agora apreciados pela Justiça.
A defesa de SINOMAR VAZ DE OLIVEIRA JÚNIOR reforça que as redes sociais não são o meio adequado para tratar de questões familiares tão sensíveis, reafirmando seu compromisso com a ética, a responsabilidade e o devido respeito à intimidade das partes envolvidas.
MLPC e Advogados Associados
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