19 de março de 2025
Política

Defesa de general “kid preto” quer impedimento de Flávio Dino em denúncia sobre golpe

Advogados do general que comandou tropa de elite em Goiânia apresentaram arguição de impedimento na segunda-feira

A defesa do general Mario Fernandes, considerado o principal líder dos chamados “kids pretos” que se envolveram na tentativa de golpe de Estado, em análise no Supremo Tribunal Federal (STF), pediu que o ministro da Corte Flávio Dino seja declarado impedido para participar do julgamento da denúncia. Dino está entre os juízes que vão julgar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o plano de golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A defesa do general apresentou no Supremo uma arguição de impedimento na segunda-feira (24). A defesa argumenta que Dino antecipou seu juízo em declarações públicas de que o 8 de Janeiro foi uma tentativa de golpe, na época em que era ministro da Justiça.

Seguindo a linha do inquérito da Polícia Federal (PF) e mais contundente até, a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, aponta uma relação direta entre os atos do 8 de Janeiro, que resultaram na destruição parcial das sedes dos três Poderes, com o plano de golpe discutido por Jair Bolsonaro e as articulações feitas pelos militares. Mario Fernandes foi um dos denunciados por Gonet sob acusação de crimes contra a democracia.

General de brigada, Fernandes foi apontado nas investigações como um dos militares mais radicais e influentes nos acampamentos golpistas montados após a derrota de Jair Bolsonaro na eleição de 2022. Em Goiânia, ele comandou de 2018 a 2020 o Comando de Operações Especiais, responsável por formar uma força especial cujos militares eram apelidados de “kids pretos”. Esse grupo de elite do Exército tem vários integrantes denunciados pela PF e PGR por envolvimento na trama golpista.

Leia também: “Kids pretos” de Goiânia pressionaram comandante do Exército e Alto Comando por golpe

Argumentos da defesa do general que liderou “kids pretos”

A defesa diz que a atuação de Flávio Dino no 8 de janeiro e suas declarações sobre o episódio anteciparam sua opinião sobre o fato, o que resultaria na perda de imparcialidade para julgar a denúncia.

A ação cita, por exemplo, uma entrevista de Flávio Dino na qual ele afirmou que “faticamente nós chegamos a ter um golpe de Estado” e outra em que o então ministro da Justiça disse que o 8 de janeiro “foi fruto de um plano, um plano que começa um pouco antes da eleição, continua depois do resultado da eleição”.

“O Excelentíssimo ministro Flávio Dino, com o devido respeito, diante da atuação como ministro da Justiça, procedeu diretamente com as investigações e emitiu juízo de valor, tipificando os fatos, portanto, não reunindo as condições subjetivas para a imparcialidade imposta ao julgador, diante da relação direta com os fatos denunciados”, escreveu a defesa do general.

Segundo informou o portal Uol nesta terça-feira (25), após apontar que a imparcialidade deve ser uma garantia do processo penal, a defesa  do general reforça: “Não é possível enxergar esta aparência de imparcialidade, pois improvável que o Excelentíssimo ministro Flávio Dino altere sua cognição subjetiva quanto à prévia formação de culpa relacionada aos fatos deduzidos na denúncia”.

Procurado pelo portal, o advogado do general Mario Fernandes, Marcus Vinícius Figueiredo, afirmou que não iria comentar e que se manifestaria apenas nos autos do processo.

A expectativa é de que também a defesa de Jair Bolsonaro (PL) vá pedir ao STF o impedimento dos ministros Dino e Cristiano Zanin para julgar a denúncia contra o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.


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