16 de março de 2025
DESTRAVANDO O ORÇAMENTO

Congresso aprova projeto com novas regras para pagamento de emendas ao orçamento

Deputados e senadores aprovaram em sessão conjunta as mudanças para modernizar e dar transparência e rastreabilidade no pagamento de emendas parlamentares; houve divergência
Sessão conjunta aprovou mudanças no pagamento das emendas parlamentares - Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado
Sessão conjunta aprovou mudanças no pagamento das emendas parlamentares - Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado

Senadores e deputados aprovaram nesta quinta-feira (13), durante sessão conjunta, o Projeto de Resolução do Congresso Nacional nº 1 de 2025, que estabelece novas regras para a apresentação e indicação de emendas parlamentares. As mudanças atingem a Resolução nº 1 do Congresso Nacional de 2006, e prometem modernizar o processo, aumentar a transparência e garantir o uso eficiente dos recursos públicos, por exemplo, com rastreabilidade. 

De autoria conjunta das Mesas do Senado e da Câmara, o projeto será promulgado pela Mesa Diretora do Congresso Nacional e passará a ter força de lei, conforme divulgou a Agência Senado logo após a sessão. Nominal, a votação registrou o placar de 64 votos favoráveis e outros três contrários no Senado, enquanto na Câmara o resultado foi de 361 votos a favor do projeto, ante outros 33 votos contra o texto.  

O projeto de resolução aprovado nesta quinta-feira é fruto do plano de trabalho conjunto com medidas para aumentar a transparência e a rastreabilidade na execução das emendas parlamentares. 

STF suspendeu pagamento de emendas

Questionamentos a respeito de falhas nos critérios de transparência na execução das emendas vinham sendo feitos pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro chegou a suspender o repasse das emendas, avalizado por outros ministros da Corte.

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Dessa forma, o texto aprovado nesta quinta pode dissolver o imbróglio entre os Três Poderes e consequentemente destravar a aprovação do Orçamento de 2025, cuja votação passou a depender da solução em torno das emendas parlamentares. 

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) celebrou a aprovação do texto. Segundo ele, “essa é uma resposta urgente, inadiável e necessária, que coloca em trilho novamente a execução orçamentária, de maneira a garantir a transparência e a rastreabilidade das emendas parlamentares, em conformidade com as diretrizes firmadas na Constituição Federal e nas decisões proferidas pelo STF”. 

Mudança no rito das emendas parlamentares no Congresso vai impor controle eletrônico

Uma das principais alterações propostas é a obrigatoriedade de que as atas de apresentação e indicação de emendas sejam elaboradas no sistema eletrônico, sempre que possível. Essa medida busca digitalizar o processo legislativo para facilitar o controle, a rastreabilidade e o acesso às informações. 

O projeto reforça, ainda, a necessidade de que as emendas sigam as disposições do artigo 166 da Constituição Federal, que impõe restrições para evitar a alocação descontrolada de recursos. Além disso, “nenhuma emenda poderá ser aprovada em valor superior ao solicitado, exceto em casos de remanejamento entre emendas do mesmo parlamentar”. 

Critérios envolvem modelo padronizado

As emendas deverão ser apresentadas com a ata da reunião que deliberou a inclusão, bem como seguir um modelo padronizado. Elas também deverão ter caráter institucional e atender a interesses nacionais ou regionais, com o respeito à definição de ações estruturantes da Lei Complementar 210, de 2024. 

Fica proibida a destinação de recursos a entidades privadas, exceto quando incluídas em programações previamente estabelecidas no projeto. A justificativa de cada emenda deverá conter elementos que permitam avaliar os benefícios sociais e econômicos da política pública proposta. 

Limite de emendas

Para evitar a fragmentação excessiva do Orçamento, cada comissão poderá apresentar até seis emendas de apropriação e duas de remanejamento. As sugestões de emendas deverão ser encaminhadas exclusivamente pelo sistema eletrônico.

Além disso, um relator será designado para cada conjunto de emendas a fim de garantir um acompanhamento eficiente da tramitação. 

Votos divergentes

O senador Oriovisto Guimarães (PSDB-PR) foi um dos três que votaram contra o projeto. Na visão dele, o texto é ruim e não atende às exigências do STF tanto em termos de rastreabilidade, como em transparência. 

Para Guimarães, “essa nova resolução é mais um artifício para encobertar os autores das propostas, é mais um artifício para criar duas categorias de parlamentares, aquela meia dúzia que tem acesso a emendas e uma maioria que só tem direito às emendas obrigatórias, transparentes, que estão na Constituição”, reclamou. Ele defende que não deveria haver emenda nenhuma, “apenas as obrigatórias”.  

Tentativa de encerrar sessão

Também contrárias ao texto apresentado no Congresso com novas regras para as emendas parlamentares, as bancadas do Psol e do Novo se manifestaram durante a sessão conjunta. O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) chegou a apresentar, logo no início da discussão, uma questão de ordem para que a sessão fosse encerrada sob o argumento de que o texto não foi liberado para análise dos parlamentares com 24 horas de antecedência, argumentado refutado pelo presidente Davi. 

Na sequência, o deputado atacou um dos pontos do texto. De acordo com ele, o artigo 45-A do projeto prevê que as indicações das emendas de comissão, encaminhadas para deliberação das comissões pelos líderes partidários, constarão de ata da bancada partidária, aprovada pela maioria dos membros. 

“O ministro Flávio Dino determinou que deve haver a identificação individual do autor das respectivas emendas. Nesse artigo há a possibilidade da indicação de emenda pelo líder partidário, sem a necessidade de que haja então a individualização e a nomeação de quem fez a indicação da emenda. Com isso mantém-se o orçamento secreto”, criticou Braga. 

Lacuna

Além deles, a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) afirmou que vê uma lacuna que não foi tratada no projeto em termos de transparência e rastreabilidade. 

“A solução é muito simples, basta colocar uma coluna em todos os nove anexos, e não somente em alguns, com o nome do parlamentar solicitante ou proponente. O texto, como está, não vai resolver nada. Isso daqui, para mim, é uma afronta à inteligência de qualquer pessoa, é chamar todo mundo de laranja, de otário”, desabafou a deputada. 

Já o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) disse que “começou mal a discussão de um projeto que pretende garantir mais transparência às emendas parlamentares, uma vez que a tramitação foi atropelada”. O deputado também criticou o artigo 45-A ao dizer que o “texto abre brechas” para que as emendas de comissão sejam indicadas pelos líderes partidários, juntamente com a ata da bancada, chamando a questão de “drible”. 


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