16 de julho de 2025
Publicado em • atualizado em 25/05/2025 às 21:50

Ronaldo Caiado testa motes de campanha com presidente forte

Caiado tem estratégia definida e testa motes de campanha enquanto circula pelo país na pré-candidatura a presidente (Foto Divulgação)
Caiado tem estratégia definida e testa motes de campanha enquanto circula pelo país na pré-candidatura a presidente (Foto Divulgação)

Ronaldo Caiado está em movimento ativo na campanha presidencial e testa mensagens e motes de campanha para ver o resultado junto aos eleitores. Em entrevistas recentes, manifestações públicas e bastidores de Brasília, ele tem afinado o discurso de pré-candidato à Presidência da República. Mas não apenas isso. Caiado vem testando um conceito: o de que o Brasil precisa de um presidente forte, com autoridade real, que governe com autonomia — sem se ajoelhar diante do Congresso. É um discurso claro, direto e até sedutor.

No cenário nacional, é bastante criticado (por muitos líderes e analistas) o presidencialismo de coalizão, a dependência de emendas e à fragmentação partidária. Sergio Abranches já diagnosticava esse fenômeno nos anos 1980, definindo o Brasil como um caso atípico de presidencialismo com multipartidarismo extremo, no qual o Executivo depende de alianças frágeis e complexas para governar. Caiado, ao rejeitar esse modelo, parece querer reescrever a fórmula. Mas ainda sem apresentar um substituto claro, pois estaria em elaboração. Começa pela visão dele de um presidente forte.

Ele fala como quem viveu as amarras do sistema, mas se coloca como o único capaz de enfrentá-lo. Em essência, sua visão parece simples: mais poder para o Executivo, menos espaço para o balcão de negócios do Legislativo. É um argumento que atrai. O eleitor brasileiro, cansado de crises políticas, corrupção e impasses intermináveis, tende a simpatizar com a figura do gestor que decide, que age, que não negocia com fisiologismo. E Caiado sabe disso, pois está testando a resposta ao mote.

Mas o problema não está na crítica. Está na proposta — ou na falta dela. Ao rejeitar o modelo atual, ele ainda não apresentou uma alternativa institucional sólida. É provável que vá construindo ao longo da campanha. Quer menos interferência do Congresso, mas não explica como isso seria feito dentro da ordem constitucional atual. Vai propor uma reforma política? Vai defender o semipresidencialismo, como sugerido por José Sarney, Michel Temer e outros ao longo das últimas décadas? Vai encarar o pacto federativo e a reorganização dos partidos? Por enquanto, apenas nega o que existe. Não constrói o que viria depois, por enquanto.

Na prática, seu discurso é um prolongamento do estilo que adotou em Goiás, mas tem foco do que sabe da vivência que já obteve na área federal. Conhecido como centralizador, disciplinado e avesso a concessões fora da sua agenda. No primeiro mandato, impôs ajustes fiscais duros, enfrentou categorias do funcionalismo, e depois, com as contas organizadas, passou a investir em obras e visibilidade nacional. É inegável: fez um governo que recuperou a capacidade de investimento e ganhou musculatura política. Mas o Planalto é outro jogo, com dimensões muito mais complexas.

A administração federal não se governa como um estado. O presidente da República não é um gestor solitário. Precisa formar maioria no Congresso, negociar com governadores, liderar um pacto nacional que inclua Judiciário, sociedade civil e, sim, partidos políticos. Como lembrava Juan Linz, o presidencialismo carrega um risco inerente de crise, especialmente quando o Executivo e o Legislativo não dialogam. E no Brasil, essa tensão é regra, não exceção.

Caiado tenta caminhar por uma trilha: a do discurso moralista contra a política como ela é. O mesmo caminho que levou ao poder figuras como Collor e Bolsonaro. Presidente tem que ter estatura moral, diz ele. Mas há uma diferença. Ele tem experiência, currículo, e uma base de realizações. Isso pode fazer diferença. No entanto, não é garantia de que saberá compor, articular e liderar um país tão complexo como o Brasil.

Há também outro ponto pouco debatido: o perfil ideológico de Caiado. Conservador nos costumes, defensor do agronegócio, crítico da esquerda e com ligações fortes com setores religiosos e empresariais. Se eleito, tende a governar com essa orientação. A defesa de um Executivo mais forte, nesse caso, pode significar para muitos eleitores o risco de um Executivo menos plural.

O que Caiado propõe — ainda que de forma vaga — é um reposicionamento do papel presidencial. Não apenas como gestor, mas como figura de comando nacional. Essa ideia tem força retórica, mas precisa vir acompanhada de institucionalidade, de compromisso democrático e de respeito aos mecanismos de freios e contrapesos que sustentam a autonomia e independência dos poderes nos regimes democráticos.

No curso da disputa pelo Planalto, Caiado precisará mais do que frases de efeito e um bom retrospecto como governador. Terá que dizer como pretende enfrentar as amarras que ele critica ao apontar a necessidade de um presidente forte. E, principalmente, com quem fará isso. Porque ninguém governa sozinho.


As frases de efeito de Ronaldo Caiado na campanha presidencial:

  • “Coragem para endireitar o Brasil.”

Este é o slogan oficial da pré-campanha de Caiado, definido com assessores para destacar sua disposição em enfrentar os problemas do país. (CNN)

  • “Quando assumi Goiás, o Estado era a Disneylândia da criminalidade.” (Referindo-se o período de 20 anos do governo de Marconi Perillo e aliados)

Caiado utilizou essa metáfora para descrever a situação da segurança pública em Goiás antes de sua gestão, ressaltando os avanços obtidos. (Valor Econômico)

  • “Ou o bandido muda de profissão ou muda de estado.”

Frase proferida por Caiado durante sua posse como governador, enfatizando sua política de tolerância zero contra o crime. (Diário de Goiás; Infomoney e outros)

  • “O presidencialismo foi destruído no Brasil.”

Crítica de Caiado ao sistema político atual, apontando a fragilidade do Executivo diante do Legislativo. (Folha de São Paulo )

  • “Não sou candidato de bolso de colete nem de rabo de saia de ninguém.”

Declaração de independência política, indicando que sua candidatura não está atrelada a outros líderes ou grupos. ( Valor Econômico)

  • “Eu não sou preposto de ninguém. O próximo presidente tem que ter independência moral.”

Caiado reforça a necessidade de autonomia e ética na presidência, afastando-se de influências externas. (BBC Brasil)

  • “O plano de governo é do presidente. O deputado foi feito para aprovar o Orçamento, fiscalizar o Orçamento e legislar.”

Comentário sobre a função dos parlamentares e a necessidade de respeitar as atribuições de cada Poder. (Folha de S.Paulo)

  • “O governo Lula não tem plano de governo e não sabe para o que veio.”

Crítica direta à gestão do presidente Lula, questionando a falta de diretrizes claras. (UOL Notícias)

  • “Nunca passei a mão na cabeça de bandido. Nunca fiz concessão à bandidagem desde que me entendo por gente.”

Afirmação de sua postura firme contra o crime, destacando sua trajetória de combate à criminalidade. (Valor Econômico)

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .