O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, fez duras críticas à forma como as pesquisas eleitorais têm sido conduzidas e interpretadas no Brasil. Em entrevista à TV Fórum, ele afirmou que os levantamentos divulgados atualmente não representam fielmente o conjunto da sociedade brasileira. “Não temos uma amostragem real”, declarou.
Segundo Coimbra, há um descompasso entre os números apresentados pelas pesquisas e a realidade social e política do país. Um dos exemplos que ele cita é uma recente sondagem que indicava que 97% dos entrevistados já teriam decidido seu voto para a próxima eleição presidencial. “Isso é completamente incoerente com os dados que temos sobre desinteresse, antipatia e desconhecimento político”, afirmou.
O sociólogo aponta que mais da metade da população não sabe quem é o vice-presidente da República, não conhece funções básicas do Congresso e demonstra desinformação política generalizada. “Nós não somos um país em que 97% da população, faltando um ano e meio para a eleição, já sabe o que vai fazer”, criticou.
“Estamos ouvindo a parcela que quer falar. A grande parcela que não quer, que não se interessa, que não se entusiasma com isso, não vai dar entrevista. Portanto, não temos uma amostra efetiva do eleitorado” (Marcos Coimbra)
Coimbra também questionou a metodologia das pesquisas, especialmente aquelas realizadas em períodos de baixa disposição popular para o debate político. Como exemplo, citou a realização de entrevistas em plena época de carnaval, com calor intenso nas grandes cidades. “Imagina abordar alguém andando pela Praça da Sé perguntando em quem votaria se a eleição fosse hoje. É muito improvável que essa pessoa ofereça um depoimento representativo”, disse.
Para o presidente do Vox Populi, os levantamentos captam apenas a opinião de uma parcela da sociedade – aquela que se dispõe a falar sobre política. Ele afirma que isso gera distorções, alimenta interpretações precipitadas na imprensa e contribui para a formação de cenários irreais. “Essas pesquisas servem para alimentar uma conversa que só interessa a uma parcela minoritária politizada da sociedade e a seus representantes na imprensa”, observou.
Coimbra lembra que, nas eleições de 2022, Lula chegou a ter mais de 60% das intenções de voto contra cerca de 30% de Jair Bolsonaro. No entanto, a eleição foi decidida por uma margem apertada de apenas 1,5 ponto percentual. “Aqueles números de um ano antes não se confirmaram. Não significavam nada em relação ao que veio a acontecer de fato”, avaliou.
Ao final da entrevista, ele reforçou que os levantamentos de opinião precisam ser lidos com cautela. “Estamos ouvindo a parcela que quer falar. A grande parcela que não quer, que não se interessa, que não se entusiasma com isso, não vai dar entrevista. Portanto, não temos uma amostra efetiva do eleitorado”, concluiu ele.
Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .