O documentário que conta a história de Chica Machado, uma das escravizadas mais influentes de Goiás, terá sua pré-estreia nesta quinta-feira (20). A produção “Chica Machado – Rainha de Goyaz” será exibida no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG) a partir das 19h30, com entrada gratuita.
Além da exibição inédita, o evento ainda terá um bate-papo sobre a obra, com a diretora Renata Rosa Franco. O projeto foi feito com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Governo Federal, e operacionalizada pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Cultura. O curta gira em torno da atuação de Chica, que alforriou diversos negros em Goiás e elegeu um de seus filhos deputado na primeira constituinte.
Origem do projeto
A obra é fruto da pesquisa de doutorado da diretora em Performances Culturais pela UFG, Renata Rosa Franco, que expandiu o trabalho acadêmico para as telas, ao realizar uma série de viagens para diferentes cidades goianas. O enredo percorre os caminhos traçados por Chica Machado em Niquelândia, no povoado de Cocal, onde ela se estabeleceu para trabalhar nas minas de ouro descobertas na região; Uruaçu, a antiga Ourofino; e Jaraguá, última morada da personalidade.
A trajetória de Chica se finda em Jaraguá, junto a um de seus filhos, o padre Silvestre, figura ilustre do Estado, poliglota, que se elegeu deputado por Goiás por influência da sua mãe. O outro filho, Manoel Álvares, também era padre e figura ilustre da comunidade.
“O mais interessante de se observar é que, mesmo no século XVIII, a projeção de Chica Machado era tamanha que seu marido não é retratado pelo nome próprio, mas sim como marido de Chica. Seus filhos, mesmo sendo padres, e figuras influentes da comunidade, são lembrados como filhos da Chica. Ela foi o pilar dessa família e da comunidade da época, mesmo sendo mulher, negra e escravizada”, enaltece a pesquisadora.
Personalidade goiana
Poucas mulheres goianas tiveram o prestígio e a projeção social conquistada por Chica Machado. Mulher negra escravizada, que chegou à Goiás por volta de 1750, no povoado de Cocal, constituiu família com Manoel Álvares da Silva, com quem teve seis filhos, conquistou sua alforria e passou a trabalhar para libertar diversos “irmãos” escravizados. De mulher negra do período colonial, a senhora de terras a perder de vista, símbolo da libertação da escravatura e hábil negociante, Chica Machado construiu sua história para além dos livros e registros oficiais, chegando a eleger um de seus filhos deputado por Goiás na primeira constituinte.
Sua projeção e relevância vive na memória do povo que habita a região onde há 300 anos ela caminhou e prosperou, e é transmitida até hoje pela oralidade, o que lhe conferiu o ar de figura lendária por onde passou. A riqueza de Chica Machado segue sendo um mistério até mesmo para aqueles que transmitem seus feitos.
Alguns dizem que ela conquistou tudo por meio do ouro que ela escondeu durante a época em que trabalhou no garimpo. O que é inegável em todas as narrativas a seu respeito é que Chica Machado foi uma mulher notável, a ponto de seguir inspirando o protagonismo de mulheres que têm contato com sua história.
O curta documental traz relatos transmitidos de geração em geração que mantêm viva a importância dessa figura lendária em terras goianas. Além da luta abolicionista, Chica foi responsável por construir a Igreja das Mercês, para permitir que os negros da sua época tivessem acesso a um templo sagrado para professar sua fé. Relatos contam que ela entrava carregada por uma liteira e tinha ouro em pó sendo jogado aos seus pés.
O documentário Chica Machado – Rainha de Goyaz também será exibido na programação do Cine Cultura, no Cineclube Maria Grampinho que integra o Sertão Negro Ateliê na Escola de Artes, e na Cinemateca do IFG Câmpus Goiânia.