Ronaldo Caiado saiu do isolamento político e voltou ao tabuleiro nacional com fôlego renovado depois que União Brasil e PP selaram a criação de uma federação – batizada, nos bastidores, de “União Progressista” – cujo anúncio oficial foi marcado para 29 de abril, em Brasília. O novo bloco, com cerca de 108 a 109 deputados e 13 senadores, torna-se de imediato a maior força no Congresso e garante ao governador goiano o que ele mais precisava neste momento: tempo de TV, fundo partidário parrudo e capilaridade em todos os estados.
Até poucos dias atrás, Caiado enfrentava resistências internas e o risco de ver a legenda fragmentar-se entre alas simpáticas a Lula e grupos que sonhavam com uma aliança automática com Jair Bolsonaro. A ameaça tácita de que ele pudesse deixar o partido e disputar espaço em outra sigla pesou na balança: ninguém queria sofrer o desgaste de vê-lo discursar em convenção contra a direção nacional. O acordo manteve as cúpulas confortáveis, instituiu um rodízio na presidência da federação e, em troca, blindou a pré-candidatura do governador – ainda que política seja, por natureza, mutável.
Com a marquise recém-erguida, Caiado recebe o passaporte para percorrer o país, montar núcleos de estratégia, contratar pesquisas e dar forma a um discurso capaz de reduzir o desconhecimento que ainda o separa do eleitorado do Sudeste e do Nordeste. A fotografia de Antônio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP) posando juntos nas redes, acompanhada da legenda “vem coisa boa por aí”, selou simbolicamente a aliança e sinalizou ao mercado político que a direita agora tem um player robusto fora da órbita bolsonarista.
O calendário também conspira a favor. Há pouco mais de um ano para as convenções de 2026, Caiado poderá ocupar as inserções nacionais do União Brasil, visitar diretórios estaduais do PP e testar narrativas sobre segurança pública e agronegócio – temas que lhe rendem aplausos no Centro-Oeste. Ao mesmo tempo, a federação afasta o PP do campo de apoio automático a Bolsonaro, reposiciona a legenda no jogo de poder e eleva o cacife das duas siglas nas negociações do centrão.
Em política, nenhuma garantia é pétrea e qualquer cláusula pode ser reescrita sob nova correlação de forças. Hoje, contudo, o goiano sorri largo: tem estrutura, prazo e crachá de pré-candidato da maior bancada do país. Cabe-lhe, agora, transformar capital partidário em viabilidade eleitoral.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .