Brasileiros deportados dos Estados Unidos chegaram ao Brasil neste sábado (25), trazendo relatos de maus-tratos e agressões sofridos durante o voo de repatriação. Entre eles, Carlos Vinícius de Jesus, morador de Vespasiano (MG), afirmou ter ouvido ameaças graves de agentes norte-americanos. “Eles falaram que, se quisessem, fechavam a porta da aeronave e matavam a gente, porque não estavam nem aí. Estou aliviado de ter chegado com vida”, declarou.
Outros deportados compartilharam experiências semelhantes. Sandra Souza, 36, descreveu o voo como um “inferno”. Segundo ela, o avião apresentava problemas técnicos, mas ainda assim foi utilizado para o transporte. “Foi uma tortura. Faltou compromisso e respeito”, disse.
Relatos de agressões físicas também foram feitos. O vigilante Jeferson Maia afirmou que os passageiros ficaram mais de 50 horas algemados e acorrentados, sem acesso adequado a banheiros e enfrentando altas temperaturas. Ele contou que foi enforcado por um agente ao tentar sair da aeronave devido às más condições.
Aeliton Cândido relatou restrições a água e comida, além de agressões aos que tentavam acessar os recursos básicos. Ele exibiu ferimentos no pescoço e na perna, que atribuiu à violência dos agentes norte-americanos.
Resposta do governo brasileiro
Diante dos relatos, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou a retirada imediata das algemas e correntes assim que o avião pousou em território brasileiro, em Manaus (AM). Para garantir dignidade e segurança aos cidadãos, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi acionada para transportar os deportados até Belo Horizonte (MG).
A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, que recepcionou os brasileiros, afirmou que o governo investigará as denúncias de agressões e maus-tratos. “Os países podem ter suas políticas imigratórias, mas nunca desrespeitar os direitos humanos”, destacou.
O Ministério das Relações Exteriores informou que solicitará explicações ao governo dos Estados Unidos sobre o tratamento dispensado aos brasileiros durante o voo de deportação.
Leia a íntegra da nota do governo brasileiro:
“Na manhã deste sábado (25), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, informou o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre uma tentativa de autoridades dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação para o Brasil. A situação foi comunicada pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues.
O voo, que tinha como destino o Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte, precisou fazer um pouso de emergência, na noite desta sexta-feira (24), em Manaus (AM), devido a problemas técnicos.
Por orientação de Lewandowski, a Polícia Federal recepcionou os brasileiros e determinou às autoridades e representantes do governo norte-americano a imediata retirada das algemas.
O ministro destacou ao presidente o flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.
Ao tomar conhecimento da situação, o Presidente Lula determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública enfatiza que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis.“
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