Dados preliminares da amostra do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão visibilidade estatística à realidade das pessoas com deficiências (PCDs) e com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pela primeira vez.
Os dados revelam que o Brasil tinha 14,4 milhões de pessoas com deficiência, o que corresponde a 7,3% de 198,3 milhões de pessoas acima de dois anos. O Censo também fez uma abordagem estatística sobre pessoas com TEA, que somavam 2,4 milhões: 1,2% da população brasileira em 2022. Foram identificados 1,4 milhão de homens e 1 milhão de mulheres com o transtorno.
As informações constam da publicação “Censo Demográfico 2022: Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista – Resultados preliminares da amostra”, divulgado pelo IBGE nesta sexta.
Censo 2022: pessoas com deficiências
O Censo revela que os idosos com 60 anos ou mais representavam 45,4% das pessoas com deficiência, enquanto na população sem deficiência eles eram 14,0%. As mulheres com deficiência eram 8,3 milhões e os homens, 6,1 milhões. Em todas as Grandes Regiões, as mulheres com deficiência eram mais numerosas do que os homens nessa condição. Isso, conforme o IBGE, pode estar associado à maior longevidade feminina na população brasileira.
Nos nove estados do Nordeste, os percentuais de pessoas com deficiência superaram a média nacional (7,3%). Fora do Nordeste, o Rio de Janeiro foi o estado com maior proporção (7,4%). Já as menores proporções de pessoas com deficiência foram observadas em Roraima (5,6%), Mato Grosso (5,7%) e Santa Catarina (6,0%).
Mais de 1/4 das pessoas com 70 anos ou mais têm alguma deficiência
A prevalência de deficiência aumenta de acordo com a idade. Enquanto apenas 2,2% da população de 2 a 14 anos apresentavam algum tipo de deficiência, esse percentual sobe para 5,4% entre os adultos de 15 a 59 anos e atinge 27,5% entre as pessoas com 70 anos ou mais.
Entre as pessoas do país com deficiência, 32,8% tinham de 60 a 79 anos, frente a 12,5% das pessoas sem deficiência. Na faixa de 80 anos ou mais de idade estavam 12,6% das pessoas com deficiência e apenas 1,5% das pessoas sem deficiência.
Funções mais afetadas por deficiências
- Dificuldade para enxergar foi a mais comum: 7,9 milhões de pessoas, mesmo com uso de óculos.
- Em seguida:
- Andar ou subir degraus: 5,2 milhões
- Destreza manual e funções mentais: 2,7 milhões cada
- Ouvir: 2,6 milhões
Condições precárias agravam a exclusão
- 19,3% dos domicílios sem banheiro tinham ao menos um morador com deficiência.
- Entre as casas sem ligação à rede geral de água, 18% abrigavam pessoas com deficiência, contra 15,7% nas que tinham essa conexão.
Desigualdade racial, territorial, educacional e econômica
- A maioria das pessoas com deficiência se declarou:
- Parda: 6,4 milhões
- Branca: 6,1 milhões
- Preta: 1,8 milhão
- Entre os indígenas com dois anos ou mais, 7,9% tinham alguma deficiência.
- No grupo indígena com 65 anos ou mais, 30,6% apresentavam deficiência.
- 19,3% dos domicílios do país sem banheiro tinham algum morador com deficiência
- A taxa de analfabetismo entre deficientes de 15 anos ou mais (21,3%) foi mais do que o triplo da meta estabelecida.
- 63,1% das pessoas de 25 anos ou mais com deficiência não completaram o ensino fundamental, enquanto nas pessoas sem deficiência essa proporção foi de 32,3%.
- Apenas 7,4% das pessoas com deficiência concluíram o ensino superior, contra 19,5% entre as pessoas sem deficiência.
- 25,2% das pessoas com deficiência terminaram a educação básica obrigatória (no mínimo, o ensino médio). Entre as pessoas sem deficiência, essa proporção era mais do que o dobro: 53,4%.
Censo 2022: pessoas com Transtorno do Espectro Autista
Esta foi a primeira vez que o Censo incluiu dados sobre autismo. Segundo o IBGE, os dados foram apurados com base em diagnóstico informado por profissionais de saúde.
Diferença por sexo
- A prevalência é maior entre homens (1,5%) do que entre mulheres (0,9%).
- Foram identificados 1,4 milhão de homens e 1 milhão de mulheres com TEA.
TEA é mais prevalente entre crianças
- Faixa etária de 5 a 9 anos teve maior prevalência: 2,6%.
- Seguido por 0 a 4 anos (2,1%) e 10 a 14 anos (1,9%).
- Entre meninos de 5 a 9 anos, o índice chega a 3,8%; entre meninas da mesma idade, 1,3%.
Distribuição regional das pessoas com TEA
- Prevalência semelhante nas regiões: em torno de 1,2%.
- Menor índice no Centro-Oeste (1,1%).
- Em números absolutos:
- Sudeste: 1 milhão
- Nordeste: 633 mil
- Sul: 348,4 mil
- Norte: 202 mil
- Centro-Oeste: 180 mil
TEA por cor ou raça
- Brancos: maior prevalência (1,3% – 1,1 milhão de pessoas).
- Pardos e pretos: 1,1% cada.
- Amarelos: 1,2% (10,3 mil pessoas).
- Indígenas: menor prevalência (0,9% – 11,4 mil pessoas).
Escolarização é superior entre autistas
- 36,9% da população com TEA estava estudando, frente a 24,3% da população geral.
- Homens com autismo: 44,2% estudando (contra 24,7% do total).
- Mulheres com autismo: 26,9% (contra 24,0% do total).
- Explicação envolve a concentração em faixas etárias escolares (especialmente 6 a 14 anos).
Maioria está no ensino fundamental
- 66,8% dos estudantes com autismo estavam no ensino fundamental regular.
- Ensino médio: apenas 12,3%.
- Ensino superior: 0,8% dos matriculados tinham diagnóstico de TEA, indicando barreiras no acesso e na permanência.
Destaque em alfabetização de jovens e adultos
- 4,7% dos estudantes da modalidade EJA tinham TEA.
- Maior ainda entre os de 15 a 24 anos:
- 15 a 17 anos: 9,1%
- 18 a 24 anos: 10,6%
Perfil etário dos estudantes com TEA
- Entre os estudantes com TEA:
- 70,4% dos meninos e 54,6% das meninas tinham entre 6 e 14 anos.
Desigualdade nos níveis de instrução
- Das pessoas com 25 anos ou mais com TEA:
- 46,1% estão no grupo sem instrução ou fundamental incompleto.
- Na população geral, essa faixa representa 35,2%.
- Nos níveis superiores, a população com autismo é menos representada, revelando dificuldades de progressão educacional.
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