09 de outubro de 2024
Brasil

Aquecimento global é tema secundário, diz futuro ministro

Futuro ministro, Ricardo Salles. (Foto: Secretaria de Meio Ambiente de SP)
Futuro ministro, Ricardo Salles. (Foto: Secretaria de Meio Ambiente de SP)

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou Ricardo Salles para assumir o Ministério do Meio Ambiente (MMA). À Folha de S.Paulo, o futuro ministro afirmou que a discussão sobre aquecimento global é inócua neste momento.

O nome foi anunciado por meio das redes sociais neste domingo (9).

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles afirmou à reportagem que pretende “ajudar o Brasil a se desenvolver. “Vamos preservar o meio ambiente sem ideologia e com muita razoabilidade”.

“Respeitaremos todos aqueles que trabalham e produzem no Brasil, não só na agropecuária, mas todos os setores produtivos, inclusive na infraestrutura”, diz.

O futuro ministro também afirmou que há questões práticas a serem tratadas no momento, como as relacionadas à preservação do solo, da água, ar e vegetação. Contudo, Salles preferiu não comentar sobre aquecimento global. “Essa discussão neste momento é inócua”, afirma.

Com o anúncio, o presidente Jair Bolsonaro conclui as nomeações com 22 ministérios, sete a mais do que o previsto na campanha.

Salles é advogado e ex-secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). Concorreu ao cargo de deputado federal pelo Partido Novo nas eleições deste ano, mas não se elegeu. Ele é um dos criadores do movimento Endireita Brasil.

Questionado sobre sua relação com ambientalistas, Salles afirmou que “todos serão respeitados e ouvidos”.

Durante a campanha para deputado, Salles gerou controvérsia com uma publicação em rede social na qual associava uma imagem de munição de fuzil às seguintes bandeiras: “contra a esquerda e o MST”, “contra a bandidagem no campo”, “contra o roubo de trator, gado, insumos…” e “contra a praga do javali”.

O Ministério do Meio Ambiente foi alvo de polêmicas desde a campanha de Bolsonaro. Quando ainda era candidato, ele prometeu unificar a pasta à Agricultura, mas acabou desistindo após sofrer pressão de ambientalistas e de ruralistas.

A escolha para o ministério ocorre no rescaldo da repercussão negativa gerada pela desistência do governo brasileiro de sediar a Conferência do Clima da ONU, Cop-25, em 2019.

Embora o Ministério das Relações Exteriores tenha justificado a mudança por ausência de Orçamento, as questões relacionadas ao assunto já estavam resolvidas. Bolsonaro afirmou, durante entrevista, que pediu para a conferência não acontecer no Brasil.

Salles foi denunciado por improbidade administrativa no ano passado por sua atuação como secretário de Meio Ambiente. Ele e mais duas funcionárias são suspeitos de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, na Grande São Paulo.

Em todos os mapas, “modificados de forma maliciosa”, segundo o promotor Silvio Antônio Marques, a proteção ao rio mais importante da Grande SP ficou mais frouxa. Eram áreas que estavam identificadas como de proteção ambiental, que poderiam impedir enchentes, por exemplo, mas, agora, ficaram livres para serem usadas por indústrias e mineradoras.

Em um dos pontos identificados, a alteração ocorreu exatamente em uma área vizinha a uma grande indústria do município de Suzano.

A equipe da Promotoria identificou as mudanças, que não foram registradas nos mapas e nem discutidas.

A atuação de Salles durante o tempo em que esteve à frente da secretaria de Meio Ambiente do governo paulista preocupa a ONG Observatório do Clima (OC) –que engloba mais de 30 organizações ambientais–, que chama o nomeado de ruralista.

Segundo o Observatório do Clima, Salles promoveu desmonte da governança ambiental do estado. “Ao nomeá-lo, Bolsonaro faz exatamente o que prometeu na campanha e o que planejou desde o início: subordinar o MMA ao Ministério da Agricultura”, diz a OC em nota. “O ruralismo ideológico, assim, compromete o agronegócio moderno –que vai pagar o preço quando mercados se fecharem.”

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), membro da Frente Parlamentar Ambientalista, diz à reportagem que a nomeação é inapropriada e que os prenúncios para a pasta não são bons.

“É colocar alguém ligado ao lobby, aos interesses de mineradoras, envolvido em crime ambiental, para dirigir o ministério”, afirma o senador. “[É preocupante] pensando em desenvolvimento sustentável.”

Hoje à frente do Ministério do Meio Ambiente, Edson Duarte cumprimentou, em nota, o futuro ministro e disse que Salles assumirá “o enorme desafio de promover o desenvolvimento sustentável e a proteção do maior patrimônio natural do Planeta”. (Folhapress) 

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