14 de novembro de 2025
mineração tecnológica • atualizado em 30/10/2025 às 19:26

Aparecida de Goiânia abriga única planta de processamento de terras raras do Brasil

Planta piloto de Aparecida de Goiânia é a única do país a realizar o processamento de terras raras, insumo essencial para a indústria de alta tecnologia e a transição energética
A unidade goiana é a única do país a realizar o processamento desses elementos essenciais à transição energética e à indústria de alta tecnologia. Foto: Divulgação.
A unidade goiana é a única do país a realizar o processamento desses elementos essenciais à transição energética e à indústria de alta tecnologia. Foto: Divulgação.

Um dos temas mais discutidos no setor de mineração mundial, as terras raras voltaram ao centro do debate brasileiro. Em busca de conhecer de perto o funcionamento dessa cadeia produtiva, a Agência Nacional de Mineração (ANM) visitou, nesta semana, uma planta piloto de processamento de terras raras localizada em Aparecida de Goiânia, a única unidade no país atualmente dedicada a esse tipo de operação.

O interesse é justificado: as terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos fundamentais para a fabricação de produtos de alta tecnologia, como smartphones, painéis solares e veículos elétricos, além de desempenharem um papel estratégico na transição energética global.

“Esses elementos existem em baixíssima concentração na natureza e precisam ser agrupados para que possam ser usados pela indústria”, explica Ana Carolina Sales, engenheira de processos da planta.

Do solo goiano à indústria global

A matéria-prima usada na planta vem do município goiano de Nova Roma, na divisa com Tocantins, sob a forma de argila iônica. Segundo Ana Carolina, o material natural apresenta apenas 0,1% de concentração de terras raras. “Após o processamento, obtemos um carbonato com mais de 95% de pureza. É um salto enorme em concentração e qualidade”, detalha.

O carbonato produzido na unidade é direcionado à obtenção de quatro elementos principais: neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, que são essenciais na composição de ímãs de alta performance, aplicados em motores de carros elétricos e engrenagens de turbinas eólicas.

“Com a adição desses elementos, os ímãs passam a suportar temperaturas muito mais elevadas, o que permite componentes menores, mais duráveis e eficientes”, explica Matheus Lima, especialista jurídico da empresa responsável pela operação. “Isso cria um círculo virtuoso de eficiência energética”, completa.

Como funciona o processo

O caminho da argila até o carbonato final envolve várias etapas. Conforme explica Ana Carolina, é necessária uma tonelada de argila iônica para se obter um quilo de carbonato de terras raras.

O material bruto passa primeiro por um cilindro lavador, que faz o contato inicial com uma solução química usada para eliminar impurezas. Em seguida, é peneirado separando partículas maiores de 1 milímetro e encaminhado para um espessador, responsável por dividir os componentes sólidos e líquidos.

A polpa obtida segue para um filtro prensa, que retira as últimas impurezas até resultar no produto final: o carbonato de terras raras. Mas esse é apenas o início da cadeia produtiva. Após a concentração, o carbonato precisa passar por um processo de separação individual dos 17 elementos químicos, seguido da conversão em ligas metálicas de alta pureza, para só então ser usado na fabricação de ímãs e componentes industriais.

“Atualmente, essa etapa de separação ainda não é realizada no Brasil, mas o avanço da planta de Aparecida é um marco essencial para o desenvolvimento da cadeia de valor nacional”, ressalta Lima.

Mineração responsável e sustentável

Um diferencial da operação goiana é o baixo impacto ambiental. O processamento da argila iônica dispensa o uso de explosivos e trituração, o que elimina a geração de rejeitos líquidos e dispensa barragens um dos grandes desafios da mineração tradicional no país.

Além disso, o processo utiliza 95% de reaproveitamento da água e recupera 99% do reagente principal, um fertilizante natural, o que torna a operação quase totalmente circular. “É uma tecnologia limpa, que combina eficiência com responsabilidade ambiental. O Brasil tem condições de ser protagonista nesse campo, conciliando desenvolvimento econômico e sustentabilidade”, afirma a engenheira.

Potencial estratégico para o Brasil

Com a demanda mundial por tecnologias limpas e sustentáveis em crescimento acelerado, as terras raras se tornaram um recurso estratégico. A visita da ANM à planta de Aparecida de Goiânia reforça o papel do Brasil na corrida global por autossuficiência tecnológica e energética.

O avanço da planta piloto em Goiás simboliza um passo importante rumo à verticalização da produção mineral no país, com foco em inovação, sustentabilidade e geração de valor agregado. “A planta mostra que o Brasil tem não apenas o recurso natural, mas também a capacidade técnica para processá-lo de forma moderna e responsável”, conclui Matheus Lima.


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