O governador de Goiás Ronaldo Caiado (UB), 72 anos, abriu a semana em que oficializa sua pré-candidatura à Presidência da República em 2026, com críticas contundentes ao governo Lula (PT) em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada nesta segunda-feira (31). Entre os principais temas abordados, ele falou sobre a renegociação das dívidas estaduais, sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a segurança pública no país.
O governador goiano rebateu declarações da ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, em que ela cobrava a renegociação das dívidas dos estados. Caiado afirmou que o governo federal não pode exigir reconhecimento por algo que ainda não foi efetivado.
“Ela não pode cobrar por algo que não aconteceu. [É] a viúva Porcina que foi sem ter sido. O Propag [Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados] nem tem legislação”, declarou, fazendo referência a personagem da novela Roque Santeiro que era considerada viúva, mas o marido estava vivo. Segundo Caiado, a renegociação dos débitos de Goiás foi feita ainda durante a gestão anterior, sem qualquer interferência do governo atual.
Governador aponta perseguição
“Pelo contrário [do que disse Gleisi], estou sendo perseguido”, reforçou. Ele reiterou reclamações sobre a exclusão de Goiás do processo de privatizações de rodovias.
“O Ceron [Rogério Ceron, secretário do Tesouro], que assessora o [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad, fez uma portaria exclusiva para vetar um empréstimo de R$ 700 milhões junto ao Banco Mundial, depois de ter sido aprovado pelo Tesouro e pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. As ações do governo são direcionadas não com um viés técnico, mas muito mais de retaliação a um governo que está dando certo. Então, ela [Gleisi] deve ter se confundido”, afirmou na entrevista à Folha.
Pré-candidatura não depende da situação de Bolsonaro, garante Caiado
Sobre a pré-candidatura, o governador assegurou que não depende da situação de Bolsonaro. “Nunca houve essa condicionante. Estou aguardando os desdobramentos dos fatos, mas isso não pode ser um fator inibidor nem determinante”, afirmou.
Caiado destacou que sua principal meta é se tornar mais conhecido nacionalmente, citando o início da caminhada eleitoral pelo Nordeste, com o evento de lançamento da pré-candidatura na Bahia na sexta-feira (4).
Conversa com Bolsonaro
Caiado também comentou sobre uma recente conversa telefônica com Bolsonaro, na qual o ex-presidente agradeceu sua posição a favor da anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
Ele me ligou e disse: ‘Governador, vi uma entrevista sua na CNN. Você falando sobre anistia, e estou ligando para agradecer pela sua posição’. Respondi: ‘Essa é uma posição minha desde fevereiro de 2024. Muito obrigado. Até mais. Tchau’”.
Desde a eleição de 2024 os dois estavam estremecidos, mas uma reaproximação é sempre citada no meio político como necessária, pois os dois estão alinhados à direita.
Segurança de Goiás é modelo, reitera Caiado
Carro chefe de sua gestão e provavelmente da campanha para 2026, Caiado comentou sobre a área da segurança pública. Ele foi enfático ao criticar o governo Lula e afirmar que o Brasil caminha para um “Estado do narcotráfico”.
“Não é só uma República de roubo de celular. A verdade é que ele tem que entender que hoje está patrocinando a transição do Brasil de um Estado democrático para um Estado do narcotráfico”, declarou. Ele chegou a afirmar que a atual gestão é “complacente com o crime” e favorece o avanço das facções criminosas no país.
Ao ser questionado sobre a sugestão do secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, de que o Brasil deveria seguir o modelo de combate ao crime de El Salvador [maior taxa de encarceramento do continente], Caiado rebateu. “Tem que se espelhar no modelo de Goiás”, disse.
Com um discurso cada vez mais alinhado à oposição ao governo federal, Caiado deixou claro na entrevista que busca ampliar sua influência nacional de olho na corrida presidencial de 2026. “Como sou de um estado bem avaliado, mas que só tem 5 milhões de eleitores, tenho que caminhar. A única coisa que me cobram é que eu não sou conhecido”, destacou.
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